Mas, e quando uma empresa quebra e ao olharmos seus demonstrativos financeiros, o que se enxerga é um histórico de lucros crescentes e vendas em ascensão? Como pode uma empresa com estas características vir a quebrar?
Foi pensando em responder à essa pergunta e sobretudo para auxiliar gestores e empresários a ficarem atentos para essa armadilha que resolvi escrever esse post. Acredite, nestes vários anos de consultoria em empresas de diversos segmentos e tamanhos, conheci empresários que experimentaram o gosto amargo de ver o fruto de muito sonho e trabalho vir por terra, justo nos momentos de maior euforia, ou seja, momentos em que a empresa se expandia.
Sempre que uma empresa cresce acima de sua capacidade de reinvestimento, ela pode ficar à mercê de seus financiadores, normalmente (mas não apenas) bancos. Se estes financiadores vierem a lhe negar ou reduzir o crédito, a continuidade do negócio pode entrar em colapso. Esse fenômeno é conhecido como efeito tesoura.
O efeito tesoura caracteriza-se por um descompasso entre a Necessidade de Capital de Giro (NCG) e o Capital de Giro (CDG). O saldo dessa conta é o saldo em Tesouraria (T).
T= CDG – NCG
A NCG é a diferença entre o que a empresa financia com seus recursos próprios (Estoques, clientes, etc.) menos as fontes de financiamento operacional da empresa (Fornecedores, funcionários, etc.). O ideal para uma empresa seria que ela tivesse o saldo dessa conta negativo (NCG<0). Caso o NCG seja positivo significa que ela financia mais o seu ciclo operacional do que é financiada.
O CDG são as fontes de financiamento de longo prazo da empresa. É a diferença entre as origens de recursos (Capital, Lucro, empréstimos de longo prazo) menos os ativos de longo prazo (imóveis, veículos, máquinas, etc.).
Sempre que o CDG é menor que a NCG o saldo em Tesouraria (T) é negativo e aí, a empresa é obrigada a buscar financiamentos de curto prazo, via de regra com juros mais altos, pouco prazo para pagamento, exigência de garantias. Neste momento a empresa começa a correr riscos pois a continuidade de seu negócio depende destas captações de recursos. Se o banco cessar o crédito, se um determinado fornecedor mais atento à situação do balanço da empresa reduzir os prazos de vendas, a empresa pode entrar em colapso.
COMO AVALIAR A SITUAÇÃO DA SUA EMPRESA?
1º – Obtenha o balanço dos último exercício;
2º – Reclassifique as contas do Ativo e Passivo em 3 grupos:
- Não operacionais (caixa, bancos, empréstimos curto prazo, etc.);
- Operacionais (estoques, clientes, fornecedores, funcionários, etc.);
- Longo prazo (Ativos não circulantes e passivos não circulantes).
O resultado das contas operacionais é o seu NCG. O Resultado das contas de Longo Prazo é o CDG. A diferença entre elas é o saldo em tesouraria (T) que por lógica tem que coincidir com o resultado das contas Não Operacionais.
3º – Verifique em qual nível a empresa está. Existem 6 níveis de análise:
- EXCELENTE: T>0; NCG<0; CDG>0
- SÓLIDA: T>0; NCG>0; CDG>0
- INSATISFATÓRIA: T<0; NCG>0; CDG>0
- ALTO RISCO: T>0; NCG<0; CDG<0
- MUITO RUIM: T<0; CNG<0; CDG<0;
- PRÉ-INSOLVÊNCIA: T<0; NCG>0; CDG<0.
O que fazer para reverter a situação?
Mais importante do que simplesmente saber qual o nível da empresa, é necessário entender os fatores que levaram à situação e criar um plano de ação para melhorias. Aqui vão algumas dicas de quais podem ser os motivos.
CAPITAL DE GIRO (CDG) RUIM:
- Empresa com imobilizados ociosos ou não operacionais;
- Investimentos em imobilizados caros com retorno inadequado ou demorado;
- Lucro retido baixo ou queda no lucro.
NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO (NCG):
- Aumento elevado nas vendas com mesmos níveis de NCG e AUT;
- Ciclo financeiro (fornecedores, estoques e clientes);
- Crise econômica (redução nas vendas, inadimplência, redução de prazos dos fornecedores, diminuição do lucro, etc.).
Espero ter contribuído. Corra lá pegar o balanço de sua empresa e faça essa análise!