A receita líquida dos quatro principais players do setor de proteínas de origem animal brasileiro fechou o primeiro semestre em R$280 bilhões, de acordo com os relatórios trimestrais das empresas: Marfrig, JBS, Minerva e BRF. Esse resultado aponta que o setor tem se mostrado cada vez mais maduro em momentos de alta nas commodities, pois aproveita para reduzir seu endividamento e alavancar financeiramente.
Este é um dos segmentos com mais particularidades no mercado, uma vez que além de se preocupar com as dificuldades do dia a dia, luta para atingir bons indicadores de ESG, sofre com as mudanças climáticas que influenciam diretamente nos custos da produção. Sem falar que o ano de 2022 também foi marcado pela alta dos fertilizantes NPK – resultado do conflito na Ucrânia. O insumo é muito utilizado para a produção da base alimentar dos animais, o que tornou a produção mais cara e sem espaço para revisão e por fim ainda tivemos o lockdown na China, que é um dos maiores importadores da proteína animal brasileira. Porém nem mesmo as dificuldades foram capazes de derrubar o resultado das empresas que foram considerados sólidos e dentro do esperado pelo mercado.
Suínos e frangos
A BRF, que tem em seu portfólio marcas como a Sadia, Perdigão, Kidelli entre outras, divulgou que cerca de 80% de suas receitas vêm da produção de suínos e frangos e fechou o segundo trimestre de 2022 com receita líquida de R$12,9 bilhões, um aumento de 11% quando comparado ao mesmo período do ano anterior.
Se olharmos o perfil do brasileiro que consome carne, ele possui características bem definidas: em primeiro lugar estão as preferências por carnes premium, em segundo as carnes dianteira, em terceiro os cortes de frango e somente em quarto lugar a carne suína, enquanto na China o consumo de carne bovina é somente sete quilos per capita e o consumo de carne suína ocupa o primeiro lugar. Tendo essa análise de perfil as grandes marcas começaram a olhar para esses consumidores de maneiras individuais, atualmente a Sadia tem uma marca mais que consolidada no Oriente Médio, que teve um crescimento nas vendas 13,4% e conseguiu manter o custo por quilo bastante estável o que compensou o resultado negativo na Ásia. E mesmo no cenário atual, a suinocultura brasileira, apesar da queda de 15% nas exportações, continua mantendo lucratividade, de acordo com relatório do BTG Pactual, considerando os preços fortes e câmbio favorável.
A JBS, por outro lado, consegue diversificar bem suas receitas com marcas consolidadas nos setores de bovinos, suínos, aves e já começa estender para o mercado de peixes, dessa forma ela aproveita as altas e compensa as baixas de algum setor, com esse modelo de negócio, no segundo trimestre de 2022 a empresa se firmou no topo das maiores companhias de alimentos do mundo.
Consumo geral
De acordo com o IPEA, houve uma queda de 8,7% nos rendimentos habituais da população brasileira nos primeiros três meses de 2022, com isso o brasileiro deixou de consumir cerca de 10 quilos por ano de carne. Atualmente o consumo médio é 25 quilos por ano (número já foi de 35 kg).
Embora tenha acontecido uma mudança no comportamento do brasileiro, a Marfrig conseguiu um bom desempenho na América do Sul, o resultado foi 41% maior que no mesmo período de 2021. No mercado americano, a empresa teve uma queda de representatividade, se em 2021 ele era responsável por 69% do total de receita em 2022 esse número caiu para 38%, com uma receita líquida de R$56 bilhões no acumulado do primeiro semestre de 2022, enquanto em 2021 esse valor era de R$37,8 bilhões mostrando uma menor dependência de um único mercado e um maior mix na origem de suas receitas.
Embora prefira as carnes premium, a queda de 4,72% do ticket médio nos primeiros meses de 2022 fez com que os brasileiros passassem a consumir mais carne de frango e de acordo com dados do Relatório Anual da ABPA, o consumo per capita do produto alcançou 45,56 quilos em 2021.
A grande vantagem do setor de proteínas animal é que mesmo diante da crise mundial, o alimento continua sendo base na alimentação. A expectativa para 2022 é de que o consumo mundial de carne bovina seja de 56,89 milhões de toneladas, enquanto frango e suínos sejam de 14,5 milhões de toneladas e 4,95 milhões de toneladas respectivamente.
O principal fato é que quando a economia está indo bem, o setor acaba ficando de lado e nunca é lembrado pelos especialistas, assim quando os demais setores do mercado vão mal, o setor de proteínas animal consegue manter suas margens, mesmo que não sejam as maiores do mercado, com médias entre 8% a 12%, porém são constantes e dificilmente veremos um crescimento de 50%, por exemplo, este é um segmento que tem perspectivas bastante positivas, mas já se prepara para a reversão no ciclo do gado, que virá em breve e contará também com uma redução nos custos de produção. O setor já se mostra estar mais preparado e maduro para lidar bem com as dificuldades e entregando seus bons resultados.